domingo, 19 de maio de 2013

A "Europa" não é um sonho mas eu não voltaria para o Brasil

Vida na Hungria, uma comparação com a vida no Brasil


Hoje eu estava conversando com a minha mãe e ultimamente tenho tido muito tempo para pensar nisso. Se eu voltaria ou não para o Brasil. No titulo digo Europa porque atualmente moro na Hungria e não posso generalizar a Europa por um país.
Bom para começar eu fiquei muito decepcionada depois de um tempo morando aqui. Explico, quando eu estava no Brasil todo mundo fala: Isso só acontece no Brasil. Doce ilusão! Então cheguei aqui pensando que tinha resolvido todos os problemas e discordâncias da minha vida, que tudo funcionava, estrada sem buraco,  banco sem fila, bons empregos, bons salários, transporte público, nada de dar um jeitinho, ou pode ou não pode, saúde gratuita, sem violência e que obvio todo mundo falava inglês.
Bom primeiro quero dizer que o transporte é excelente, aqui em Budapeste existem uns 5 tipos de transporte público e 3 ou 4 linhas de metrô. Realmente pode-se atravessar a cidade de norte a sul e até ir as cidades mais próximas com transporte público, rápido seguro, direto. Você pode pagar um valor mensal para o ticket do metrô e usa ilimitado no mês inteiro em todos os transportes públicos dentro de Budapeste. Isso foi um avanço, nada de transito, engarrafamento por horas... Em dias úteis, horário comercial, o tempo de espera no metrô é de aproximadamente 1 minuto e 30 segundos. Quando já é de noite ou muito cedo em média são 3 minutos, feriado pode ser até 8 minutos. Eu particularmente achei excelente.
As estradas não tem buraco mesmo, são muito seguras, sinalizadas, você quase não escuta histórias de acidentes no trânsito.
Banco sem fila: ai a coisa começou. No banco tem muuuuita fila, são poucas as pessoas que falam inglês, mas abrir uma conta corrente não é nada complicado nem burocrático, nos deram 2 cartões, pelos quais temos que pagar 20 reais anuais e ainda temos direito a um seguro de saúde fora da Hungria e do país de origem.
Bons empregos, bons salários... Bom os salários são bons para dentro da Hungria, para se ter uma ideia num emprego normal as pessoas ganhariam em torno de 1.000 reais (100.000 forint), num emprego onde você fala outros idiomas ou tem mais qualificação seria em torno de 2.000 reais (200.000 forint). Mas o que isso significa em matéria de qualidade de vida? Bom alugar um apartamento custa em média uns 500,00 reais (50.000 forint), coloca mais uns 300,00 (30.000 forint) para as contas da casa, com água, luz, gás, condomínio, aquecimento (muito importante!!!!). Comendo bem, tomando uma garrafa de vinho por semana, com quejio e direito a luxos (no Brasil mas também sem muita extravagância) você gastaria aproximadamente uns 100,00 reais (10.000 forint) por semana em supermercado.  Então se você ganha 2.000 liquido, é um bom salário, na minha opinião, entrar em uma boite são mais ou menos 15,00 reais, quando você tem que pagar porque muitos lugares você não tem que pagar, uma taça de vinho dentro dos lugares custa menos de 10,00 reais e um drink, caipirinha, martini etc uns 15,00 reais. Nos empregos normalmente a empresa paga sua saúde e te dá transporte. A coisa fica complicada quando você quer sair da Hungria e ir de férias, se você for para Europa, um Euro atualmente custam 300 forint ou 3,00 reais. Então aquele mesmo salário de 2.000 reais significam  666 euros. Uma passagem para o Brasil no minimo são 1.000 euros, dentro da Europa consegue-se bons preços para viajar mas contando passagem, hotel, alimentação, passeios não fica fácil não fazer tudo caber dentro do seu orçamento.
No quesito dar um jeitinho, funciona do mesmo jeito que no Brasil. E aqui vou falar também um pouco da minha experiencia com a saúde pública. Eu tive extrema dificuldade em encontrar um médico da saúde pública que falasse inglês. Isso porque sim, existe saúde privada, isso foi uma surpresa para mim.  Então na empresa eles ajudaram e acharam o bendito médico. Fui lá e tive que pagar uma taxa de inscrição de 20,00 reais. Ai tudo bem, ele mandou uns exames de sangue.
Diga-se de passagem de acordo com a lei você tem 3 opções para ir ao médico: 1: você pede meio dia ou um dia inteiro de FÉRIAS, sabe aqueles dias que você economiza, trabalha feriado para poder passar mais tempo no Brasil ou viajando?! 2: Você vai e depois tem que ficar "pagando" as horas que você ficou devendo na empresa. 3: Você leva o atestado do médico e mesmo que não precisou do dia inteiro você tira o dia inteiro.
Fui fazer o exame de sangue, o laboratório abria as 7:30 e como tinha que ir trabalhar e cada minuto que chego atrasada tenho que pagar, cheguei lá as 7:00 pensando que seria a primeira em chegar e que seria coisa de no máximo 30 minutos. Quando cheguei lá tinha umas 20 pessoas na minha frente, fora as grávidas, idosos e crianças que foram chegando enquanto eu esperava na fila em pé. Em fim 1 hora esperando, ninguém falava inglês, a mulher que me atendeu não abriu agulha nenhuma na minha frente e ainda eu tinha que fazer xixi num recipiente esquisito, que claro ninguém me explicou porque ninguém falava inglês e no fim uma menina da fila ficou com pena e me explicou. Ah o banheiro não tinha luz, nem papel higiênico  não trancava e não tinha sabonete.
Eu voltaria ao médico em 2 dias mas não estava mais conseguindo trabalhar de tanta dor nos braços, punhos e mãos, resultado de 8 horas no computador com 1 hora de almoço quando dá. Então pedi um atestado e ele me deu. Quando voltei na consulta com o resultado do exame, meus resultados foram bons então ele me mandou ver o ortopedista. Eu tive sorte que tinha um ortopedista de plantão e ele me atendeu na hora. Ele não falava inglês, consulta inútil. Me deu anti infamatório e tchau. Voltei a trabalhar mas as dores voltaram piores. Voltei no meu médico, ele me mandou numa clinica, fui nada, não queriam me atender. No final eu cansei e marquei uma consulta com o médico particular, ah porque se você quer ver um especialista na saúde pública tem que primeiro passar pelo clinico geral, mas na particular pagou foi atendido. O médico foi bom, o diagnostico cervicobraquialgia, mais 2 semanas de repouso e 20 sessões de fisioterapia.
A consulta com um médico particular custa em média uns 200,00 reais, esse custou 120,00. Mas a fisioterapia na clinica dele são 50,00 reais a sessão! Ou seja meu tratamento sairia por 1.000 reais! Além do que, aqui se você está com licença do trabalho por doença recebe apenas 70% do seu salário!!! eu acho o fim porque o médico custa, remédio custa, fisioterapia custa, meu aluguel não diminui nem eu como menos ou a luz fica mais barata. E o médico me falou: cuidado se você ficar tirando licença do trabalho eles vão te demitir! E aqui todo mundo dá um dinheirinho pro médico da saúde pública te atender melhor... Saúde gratuita!? Pública?! Achei muito abaixo da expectativa.
Também não exite 13º salário ou 1/3 de férias, na verdade nas férias você ganha menos não sei porquê.
A violência eu nunca presenciei, nem ouvi falar. Ando de noite, saio para caminhar com meu Iphone na mão,  no banco saco dinheiro e saio sem medo, no metro muita gente usa Laptop, celular, Ebook, etc.
Acho que para fazer parte da União Europeia a Hungria tem os padrões de qualidade muito baixos.
Agora depois de tudo isso porque não volto para o Brasil?! Porque acho que em matéria de qualidade de vida aqui é melhor, você não precisa ganhar muito, nem trabalhar muito para ter uma vida normal. Tomar um bom vinho, ter seu carro próprio diga-se de passagem carro usado é muito barato especialmente na Alemanha, sair, ir a um bom restaurante, cinema etc.
Por outro lado o consumismo no Brasil assusta e adoece as pessoas. Faz você acreditar que precisa de um milhão de coisas para ser feliz, que você só é bonita se está na moda, malha e foi no salão. Aqui todo mundo se veste como quer, não é importante usar coisas de marca para fazer parte de nada. Não existe tanta falsificação das coisas de marca porque ninguém precisa disso. Ter carro usado de 1990 é normal, é barato, também muita gente nem tem carro porque o metrô é ótimo e no verão todo mundo sai de bicicleta.
Eles fazem o que querem independente do que as outras pessoas vão pensar. Vão no parque deitam na grama para tomar sol, sei lá. São livre do julgamento alheio. Também aqui ninguém nunca me perguntou o que eu estudei, onde moro, onde trabalho como se isso te definisse como "bem sucedida", qualquer profissão é normal, ser bailarino da Opera é uma honra e não uma vergonha. Você vale pelo que é não pelo que possui. A cultura é super valorizada, todo mundo vai ao teatro, opera, ballet.
Sei lá parei de me sentir na obrigação de ser bem sucedida e ganhar sei lá quanto por mês. Que você tem que ter a casa naquele bairro, o carro do ano, frequentar os lugares chiques e se vestir de acordo para fazer parte daquele grupo! Aqui vivo uma vida simples mas muito superior a que eu vivia no Brasil, vou onde quero, não existem aqueles lugares caresimos super VIPs, ou aqueles clubes chiquérrimos  tudo é acessível até as coisas mais turísticas que você imaginar.
No Brasil achei impossível comprar um carro, mesmo que usado e o transporte público é péssimo. Impossível andar de bicicleta no transito. Comprar e alugar imóvel está cada vez mais difícil. Tenho muitos amigos que estão no primeiro emprego e comparo a vida deles com a vida dos húngaros no primeiro emprego e não tem comparação. Os húngaros podem sair de casa, pagar suas contas e viver bem. Nenhum amigo meu pode sair de casa.
Acho que não vou morar na Europa para sempre, o inverno me mata, me tortura e a frieza e a condição de ser sempre imigrante cansam, mas meu destino "final" nunca vai ser o Brasil de novo, infelizmente. Acho também que todo brasileiro deve viajar e conhecer a vida aqui fora quem sabe assim podemos ver outros modelos e mudar e lutar por um Brasil melhor.



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